Apesar dos esforços dos fotógrafos contemporâneos para exorcizarem o espectro da arte, algo permanece. por exemplo, quando os profissionais se opõem a que as suas fotografias sejam impressas até ao limite das páginas em livros ou revistas, estão a invocar o modelo herdado de outra arte: tal como as pinturas são postas em molduras, as fotografias deveriam ser emolduradas por um espaço branco. outro exemplo. muitos fotógrafos continuam a preferir imagens a preto e branco, pois consideram-nas mais delicadas e sóbrias do que a cores _ ou mesmo<< voyeuristas>> e menos sentimentais ou cruamente imitativas, mas o fundamento efectivo desta preferência é, mais uma vez, uma comparação implicita com a pintura.Cartier-Bresson, na introdução ao seu livro de fotografias O Momento Decisivo (1952), justifica a sua falta de motivação para usar a cor citando limitações técnicas; a baixa velocidade do filme a cores que reduz a profundidade de campo .Mas em virtude do rápido progresso tecnológico que permitiu a alta definição e todas as subtilezas tonais Cartier-Bresson teve que mudar de estratégia, e propõe agora que os fotógrafos renunciem à cor por uma questão de princípio. Na sua versão desse mito persistente segundo o qual se deu uma divisão de territórios, depois da invenção da câmara, entre a fotografia e a pintura, a cor pertence à pintura. Ele exorta os fotógrafos a resistirem às tentações e a preservarem as suas as sua prerrogativas.
(Susan Sontag -- Ensaios sobre fotografia)
