(...) surgiu uma nova indústria que contribui bastante para confirmar a estupidez na sua fé e para arruinar o que poderia ter restado do divino no génio francês. Bem entendido, a massa idólatra postulava um ideal digno de si e apropriado à sua natureza. No que se refere à pintura e à escultura, o credo generalizado do público sofisticado, sobretudo em França (...) é o seguinte: «Eu creio na Natureza e não creio senão na Natureza (há boas razões para isso). Creio que a arte é e não pode ser senão a reprodução exacta da Natureza(...) . Por isso a indústria que fosse capaz de dar um resultado idêntico à Natureza seria a arte absoluta.» Um Deus vingador satisfez os desejos desta multidão. Daguerre foi o seu Messias. E agora diz a si mesma: «Já que a fotografia nos dá todas as garantias desejáveis de exactidão (acreditam deveras nisso, os insensatos!), a arte é a fotografia.» A partir desse momento, a sociedade imunda precipitou-se, como Narciso, a contemplar a sua trivial imagem no metal(...). Algum escritor democrata deve ter visto nisso um meio barato para disseminar entre o povo a aversão pela história e pela pintura (...).
-Boudelaire.
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