sábado, 8 de outubro de 2011

Conversas com Kafka

"Na primavera de 1921, foram instaladas em Praga, duas máquinas fotográficas, recentemente inventadas no estrangeiro, que reproduziam seis, dez ou mais exposições da mesma pessoa numa só impressão.
Quando levei a Kafka essa série de fotografias disse-lhe despreocupadamente:
« Por duas coroas podemos deixar-nos fotografar de todos os ângulos. Este aparelho é um conhece-te a ti mesmo mecânico.»
_«Um desconhece-te a ti mesmo, quer você dizer», respondeu Kafka, com um leve sorriso.
_ O que é que quer dizer? - protestei. A Câmara não mente!
_ Quem lhe disse isso?_ Kafka inclinou a cabeça sobre o ombro._ a fotografia leva o olhar a concentrar-se no superficial. Por essa razão torna incompreensível a vida oculta que se vislumbra pelos contornos das coisas como um jogo de luz e sombra. Ninguém pode captar isso nem mesmo com as objectivas mais rigorosas. Têm que ser procurando lentamente pelo sentimento(...). Esta câmara automática não multiplica os olhos do homem, limita-se a possibilitar uma visão de mosca fantasticamente simplificada.»

_ De Conversas com Kafka, de Gustav Janouch


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