Quando levei a Kafka essa série de fotografias disse-lhe despreocupadamente:
« Por duas coroas podemos deixar-nos fotografar de todos os ângulos. Este aparelho é um conhece-te a ti mesmo mecânico.»

_«Um desconhece-te a ti mesmo, quer você dizer», respondeu Kafka, com um leve sorriso.
_ O que é que quer dizer? - protestei. A Câmara não mente!
_ Quem lhe disse isso?_ Kafka inclinou a cabeça sobre o ombro._ a fotografia leva o olhar a concentrar-se no superficial. Por essa razão torna incompreensível a vida oculta que se vislumbra pelos contornos das coisas como um jogo de luz e sombra. Ninguém pode captar isso nem mesmo com as objectivas mais rigorosas. Têm que ser procurando lentamente pelo sentimento(...). Esta câmara automática não multiplica os olhos do homem, limita-se a possibilitar uma visão de mosca fantasticamente simplificada.»
_ De Conversas com Kafka, de Gustav Janouch

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